quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Entrevista: Brasileira faz voluntariado na Palestina

Foto feita por Anne Paq (annepaq.com)  durante uma manifestação pacífica contra a ocupação militar, na cidade palestina de Bil'in. (Sandra está de óculos escuros) "As manifestações, ou todo tipo de protesto, aqui são violentamente reprimidas pelo exército israelense. Palestinos e estrangeiros caminham em cidades palestinas, armados somente de coragem, para protestar contra o roubo de suas terras pelo governo israelense. Os manifestantes são recebidos com granadas de som, bombas de gás lacrimogêneo e tiros. Centenas de pessoas foram feridas e muitas perderam a vida nessas passeatas, sem contar todos os palestinos presos por terem cometido o crime de protestar contra as injustiças das quais são vítimas. As pessoas estão cobrindo a boca e nariz para se proteger do gás lacrimogeneo, que é tão forte que pode matar (sufocamento)", explica Sandra. 

O que motiva uma pessoa à abrir mão de sua faculdade de Linguística em Paris e se dedicar ao trabalho voluntário na Palestina, região situada no Oriente Médio, numa tensa zona de conflito, a não menos de 8473 mil quilômetros de distância do Brasil, alvo de inúmeros ataques terroristas e com suas fronteiras controladas por Israel?
 
Com uma população de aproximadamente 4 milhões de pessoas, não é difícil de imaginar que a Palestina sofre com sérios problemas sociais, econômicos e políticos. Acredite ou não,  esse lugar conquistou Sandra Guimarães, que atualmente luta para melhorar a qualidade de vida das pessoas que involuntariamente são vitimas desses conflito.

A entrevista que você vai ler a seguir é um exemplo puro de solidariedade. Conheça agora a Sandra Guimarães,  uma brasileira nascida em Natal (RN) que vive no exterior desde 2002 e teve sua vida completamente transformada.


@obvioeatual : Diga-nos cinco coisas que precisamos saber sobre você.  

Sandra Guimarães: Tento deixar meus princípios e valores morais guiarem as escolhas que faço, dia após dia. Por isso (1) sou vegana, (2) não bebo álcool, (3) uso meu tempo e minha energia para tentar transformar o mundo em um lugar mais justo, (4) escolhi um trabalho que me desse a oportunidade de ajudar as pessoas e os animais, além de preservar o meio ambiente, e (5) me esforço para “ser a mudança que desejo ver no mundo”, como Gandhi nos aconselhou.

 @obvioeatual : De estudante de linguistica em Paris, para ativista na Palestina. Quando, como e por que você decidiu seguir esse caminho? 

SG: Me formei em julho de 2007. Eu adorava, e ainda adoro, linguística, mas a ideia de ser professora nunca me encantou. Acabei abandonando o mestrado dois meses depois de ter começado para seguir minha verdadeira vocação: culinária vegana. Foi nesse momento que a Palestina entrou na minha vida. Cresci ouvindo falar no assunto mas nunca entendi exatamente o que acontecia nessa parte do mundo. Um dia comprei uma revista de antropologia dedicada à Palestina e tudo, desde a origem do conflito até a vida na Palestina nos dias de hoje, estava explicado de maneira clara, com muitas fotos e mapas. Quando terminei de ler a reportagem entrei em um estado de choque que durou meses. Em dezembro de 2007 decidi visitar a Palestina. Passei três semanas passeando e fazendo trabalhos voluntários. As coisas que vi aqui me marcaram tanto que percebi que seria impossível voltar para casa e continuar com a minha vida de antes. Foi então tomei a decisão mais inusitada da minha vida : me mudei para a Palestina e comecei a trabalhar como voluntária nos campos de refugiados.

@obvioeatual Que tipo de atividade você realiza na Palestina? 

SG: Organizo oficinas sobre higiene buco dental para crianças nos campos de refugiados de Belém e, quando posso, levo-as ao dentista¹. Dou palestras nos centros culturais dos campos sobre saúde e nutrição, com foco na prevenção (e tratamento) do diabetes, hipertensão e obesidade. Coordeno um projeto que ajuda mães de crianças deficientes a ter uma fonte de renda e melhorar as condições de vida dessas crianças, também nos campos de refugiados². Quando vou ao Brasil procuro informar as pessoas sobre a verdadeira face da ocupação israelense na Palestina através de palestras e debates.  Paralelo a isso tudo, dou aulas de culinária vegetal, ensino Francês e mantenho um blog de cozinha vegana.

@obvioeatual Sobre o seu trabalho na Palestina, quais são os seus objetivos?

SG: Eu vim morar na Palestina por dois motivos. Primeiro para mostrar solidariedade a esse povo tão sofrido. Segundo para testemunhar a realidade nesse país e contar ao maior número possível de pessoas o que está acontecendo aqui. Sei que sozinha não posso acabar com as injustiças das quais o povo palestino é vítima há mais de 60 anos, mas estou fazendo o que posso para ajudá-los. É aquela velha história do beija-flor tentando apagar sozinho o fogo na floresta: estou fazendo a minha parte. Não acabei com a ocupação, mas acredito que meu trabalho nos campos melhorou a vida de muita gente e graças às palestras que dei no Brasil várias pessoas ficaram sabendo da verdade sobre o conflito. Sei que minha contribuição é modesta, mas fazer pouco é melhor que não fazer nada.

@obvioeatual : Quais são suas maiores dificuldades?

SG: A primeira coisa que me vem à mente quando penso nas dificuldades é conseguir visto para ficar aqui. Israel controla a entrada e saída de todas as pessoas (palestinos ou estrangeiros) na Palestina e viver e trabalhar aqui às vezes é uma missão impossível. A segunda maior dificuldade é a falta de apoio financeiro. Faz três anos que trabalho como voluntária e boa parte dos projetos que fiz nos campos foram financiados com meu próprio dinheiro e doações da alguns amigos próximos. Hoje sou obrigada a trabalhar menos nos campos e mais fora deles (dando aulas de culinária e francês) para poder pagar as contas. Mas talvez o pior de tudo seja esse sentimento de impotência e frustração que me acompanha permanentemente. É doloroso ver injustiças diariamente, como roubo de terras, destruição de casas, prisão de inocentes (às vezes crianças), assassinatos à sangue frio sem que nunca os assassinos sejam punidos, e não poder fazer nada. Pior ainda: ler um jornal no Brasil (ou na Europa) e descobrir que, por causa do poderoso lobby sionista, essas vítimas são descritas como os culpados da história. Isso é o mais difícil para mim.
Posted By: Marina Cardoso

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