quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Uma entrevista sobre tubarões e ativismo ambiental


O Óbvio e Atual entrevistou o diretor de um projeto que vem revolucionando o conceito de mergulho marinho (Onda Azul) e co-fundador do projeto Divers for Sharks, que atua na preservação dos tubarões através de mobilizações sociais.

 Paulo Guilherme, mais conhecido como Pinguim, é um instrutor de mergulho que não se contentou apenas em usar o mar. Virou ativista e hoje é um dos grandes nomes na área da preservação dos tubarões e da biodiversidade marinha em geral. Além de nos apresentar um pouco mais seus projetos e passar uma bela mensagem a todos nós, a entrevista ainda está cheia de declarações ao meio ambiente que nos faz refletir muito sobre nossas ações frente às discussões ambientais. 

Óbvio e Atual - Para começar, gostaria que se apresentasse melhor. Conte-nos um pouco da sua vida e de alguns momentos que te marcaram durante esses anos. 

Paulo Guilherme “Pinguim” - Nasci no Rio de Janeiro, mas nas duas primeiras décadas de vida morei no Rio, São Paulo, Minas Gerais, Recife (na época que era equilibrado e não tinha risco nenhum de ataque) e Manaus. Em Manaus conheci o então magnífico e até hoje lendário Calypso*, capitaneado pelo ícone maior do mergulho Capitão Cousteau! Apertar a mão dele na época só não foi emoção maior do que é lembrar hoje do momento. Quando criança tinha asma num grau muito elevado. Risco de vida mesmo... por causa disso fiz natação por diariamente quando criança mais ou menos dos 4 aos 6, mesmo no inverno de Minas Gerais.... Provavelmente daí veio a intimidade com a água, que acabaria me tornando mergulhador no futuro. Me dedicar a atender da melhor forma possível ao cliente mergulhador e ao aluno sonhador de um curso de mergulho. Ser guia ou instrutor de mergulho significa servir. Sim, pois são serviços que devem ser prestados da melhor forma por um profissional qualificado. Se existe um segredo para o sucesso da minha carreira e prêmios nacionais e internacionais recebidos, é este: saber servir e me dedicar de corpo e alma a isto!


Quando estou dentro d’água, ao submergir meu rosto, seja no oceano, rio, lago ou piscina, fecho os olhos por uns segundos, inspiro e exalo lentamente algumas vezes seguidas.... É como se a vida fora d’água deixasse alguma forma terra nos meus pulmões. Neste momento sinto como se me livrasse disso, literalmente me liberando do vínculo com a terra e entregando não só de corpo mas também de alma aos oceanos, sua energia, vida e regras.

O&A -  Instrutor de mergulho, fotógrafo e cinegrafista subaquático. Quando e como o fundo do mar passou a te encantar tanto ao ponto de você dedicar uma carreira bastante sólida ligada a ele?

PG - Lembro até hoje de meu pai, não consigo precisar com que idade, me ensinava a nadar, com bóias de braço em piscina de criança. Sempre me vem à cabeça ele falando “Calma, basta fechar a boca e não se afobar. Não se afoba, não se afoba”... Um dia ele me jogou na água com as bóias no braço, eu boiei e fiquei com os braços para cima ao cair na água. Foi o que bastou para as bóias serem ejetadas e eu ir para o fundo da piscina... Arregalei os olhos, olhei para cima... fechei a boca e tentei não me afobar. Aí bati os braços para a superfície e de lá para a borda da piscina. Meus olhos só não deviam estar mais arregalados do que os do meu pai. Após respirarmos, ele me falou: “viu só? Não se afobou então consegui nadar”. Daí em diante começou a se gostoso abrir os olhos embaixo d’água e “tentar ficar lá”... Durante o primeiro grau na escola, com alguns amigos começamos a fazer mergulhos em apnéia e daí a curiosidade para o mergulho autônomo foi um pulo.... E uma vez tendo respirado ar comprimido no fundo do mar, nunca mais parei e lá se vão praticamente 7 mil mergulhos.
“Viu só? Não se afobou, então consegui nadar”. Daí em diante começou a se gostoso abrir os olhos embaixo d’água e “tentar ficar lá”...

O&A -  Quando estive com você, no Congresso Nacional do Meio Ambiente em Poços de Caldas (MG), você me disse que o ativismo ambiental era uma necessidade pessoal. Por quê? 

PG - Minha relação com o mar, sua natureza e habitantes é mais que uma paixão, é amor mesmo. Amor na mais pura forma que consigo pensar, do tipo que somente consigo pensar descrição como nos poemas de Carlos Drummond de Andrade, Thiago de Mello ou Paulo Cesar Pinheiro (este em Clave de Sal).

Por alguns anos durante minha adolescência e juventude, me contentei simplesmente e ir ao mar, visitar, curtir, estar, enfim usar o mar. Porém após começar a ver, infelizmente, a degradação que acontece em escala talvez industrial elevada à exponencial, torna-se inevitável lutar para defender e preservar o local onde “nos sentimos bem e queremos estar”, certo?
E com o tempo, esta defesa acabou se tornando cada vez mais presente na minha vida, sem me dar conta, uma dependência mesmo. Porém uma dependência boa, pura e sem esperar nada em troca. Vontade de querer fazer o bem e estar junto, abrindo mão de você mesmo e até se colocando em risco, em prol deste. Só conheço uma experiência semelhante: amor.

O&A  -  Como diretor do Centro de Estudos do Mar Onda Azul e co-fundador do Projeto Divers for Sharks, fale um pouco desses seus projetos e os seus objetivos alcançados e almejados.

PG - O Centro de Estudos do Mar Onda Azul é um sonho, nada melhor para defini-lo. Começou como o sonho de poder trabalhar e me sustentar com dois amores: mergulhar e ensinar. Hoje em dia, em função de problemas sérios no mercado de mergulho e políticas nacionais autodestrutivas, isto está cada vez mais difícil e o Centro de Estudos do Mar Onda Azul vive reais dificuldades e mais uma vez voltou a viver no campo dos sonhos. O sonho de sobreviver. Mas isto profissional e economicamente falando. Já no lado ambientalista voluntário o que não falta é trabalho, causas em aberto, lutas em andamento e necessidades.... Infelizmente um fato é que para cada 100 causa que nos envolvemos, provavelmente apenas UMA gera resultado positivo. Isto pode ser muito frustrante, mas ao mesmo tempo ainda mais motivante para seguirmos em frente. A forma de se conseguir mais resultados positivos é muito simples e óbvia: Mais recursos. Simples assim. Tanto recursos financeiros como humanos.
“No lado ambientalista voluntário o que não falta é trabalho, causas em aberto, lutas em andamento e necessidades....”
O&A -  Aproveite para deixar um recado a todos que se interessaram pelo seu trabalho e que desejam participar dos seus projetos. 

PG  - Algumas pessoas acham que é uma opção ser um ativista, e para alguns é uma questão mais filosófica, para ficar sendo debatida em assembleias, academias ou fóruns multidisciplinares. Mas a verdade é bem outra. 
Não se “vira” um ativista, o que acontece é que se DEIXA DE SER UM PASSIVISTA. 
E deixar de ser passivista não significa ir para o meio do mato, defender uma floresta ou para o mar, lutar contra a pesca predatória. Sim, claro que isto é muito importante! Deixar de ser passivista também significa apoiar, dar suporte e financiar estas ações. Por isso que as lutas ambientais não vão para frete. A sociedade vê os problemas, sabe o que tem que ser feito mas pensa: “Ah não, isto é muito perigoso” ou então “eu não tenho talento para ir lá e defender”, então muda de canal ou simplesmente clica em curtir no facebook. É preciso mais que isso. Se envolver, ajudar, contribuir, doar.... Se você não quer mais ser um passivista entre em contato comigo e vamos ver a melhor, mais efetiva e gratificante forma de agir! Contatos podem ser feitos pela nossa página facebook.com/diversforsharks ou diretamente comigo através do e.mail pinguim@ondaazul.com.br E vamos que vamos!

Saiba mais: http://diversforsharks.com.br/site/ 


-
* Calypso: Conhecido navio oceanográfico.

Foto: Reprodução/Fan page Divers For Sharks
Posted By: Marina Cardoso

Uma entrevista sobre tubarões e ativismo ambiental

Share:

Post a Comment

Facebook
Blogger

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Redes Sociais

O que há de Óbvio e Atual?

O Óbvio e Atual é um espaço aberto para discussões, por isso seu contato é fundamental. Entre em contato pelo email: blog.obvioeatual@gmail.com ou deixe seu comentário aqui no blog.

Ah! Você é brasileiro e vive em algum outro país? Não deixe de trocar experiências por aqui. Gente da Itália, do Japão, da Palestina e de vários outros lugares já contribuíram com publicações para o blog.

Curta nossa fan page

© Óbvio e Atual || blog.obvioeatual@gmail.com